24/09/12

Malucos do Riso



Se fosse um filme de outro realizador, se não esperássemos um filme do Woody Allen, seria assim tão mau? Julgo que sim.

Mas o facto de ser do Woody Allen torna a coisa ainda mais grave.

A espiral decadente que começou em Vicky Cristina Barcelona e continuou com Midnight in Paris (muita gente gostou, é certo. Eu não, mas a conclusão termina aí, é claro), tem, como é esperado, sequela em To Rome With Love.

Felizmente (também para mim que gosto de gostar de Woody Allen), pelo meio houve Whatever Works e You Will Meet a Tall Dark Stranger (de todos os referidos foi, talvez, o que mais gostei).

É que isto dos filmes por encomenda não resulta. Aquilo que era conhecimento de causa e subtileza é tomado pelo pitoresco e, talvez por necessidade de justificar os gastos, há uma qualquer necessidade de atafulhar as fitas de gente conhecida, local e importada, que resulta numa salgalhada e desperdício de talento onde tudo é superficial.

Não há construção de personagens (já em Midnight in Paris tinha achado isso: há caricaturas, não há personagens com vida própria - que se adivinhe pelo trabalho de construção, mesmo que essa vida própria anterior não esteja em cena) e nalguns casos é mesmo gritante.

Judy Davis (a mulher de Woody Allen/Jerry), por exemplo, está ali a dar as deixas ao actor, a bater texto, só isso. E Monica, a jovem actriz que chega para desestabilizar a relação do casal amigo (Ellen Page), não existe para além dos clichés que o próprio John (Alec Baldwin) descreve cada vez que ela abre a boca. Mas essa pode até ser uma opção assumida: a miúda era um cliché ambulante, desmascarado por outros. Agora, que a Penélope Cruz o seja, outra vez (remember Vicky Cristina Barcelona), é uma pena e novamente um desperdício.

Roberto Benigni é Roberto Benigni e nesse caso eu até gosto. Mas aqui nada acrescenta.

O cantor de chuveiro e família são também eles próprios caricaturas. Ele, a mulher (la mamma) e o filho (defensor dos oprimidos, advogado de causas pro bono).

O que sucede é então uma série de gags, a piadola pela piadola, a falta de plausibilidade (que estaria sustentada por um humor do absurdo mas não é o caso).

Convenhamos que há, efectivamente, cenas com piada. Eu ri-me. Mas foi um riso piedoso, algumas vezes. Porque tudo é previsível demais.

E To Rome With Love é um episódio dos Malucos do Riso. Cheio de gags, situações cómicas de livro de anedotas, convenientemente ilustrado por uma série de bons actores (e actrizes) e mulheres bonitas (não que eu tenha retido essa imagem como balanço do filme, mas porque já vi que há quem o tenha feito). E, diga-se de passagem, os Malucos do Riso foram um programa de grande audiência durante anos a fio. Ou seja, algum crédito hão-de ter (pessoalmente, conheci muita gente ligada à produção, actores, realizadores, etc, e, em termos de panorama da produção nacional, eram, a SP Filmes, dos que funcionavam melhor).

A questão aqui volta a ser o Woody Allen. O filme vale o que vale (para mim não vale grande coisa) e assim continuaria sendo de outrém. Mas do Woody Allen espera-se mais porque sempre houve mais e melhor. E espera-se que retorne a casa.

Eu gostava muito de o ver questionar-se, ao seu estilo, sobre temas independentes da localização geográfica (e nesse caso até podia filmar nas Berlengas). O envelhecimento, por exemplo. Woody Allen a tocar as questões do íntimo no seu próprio ponto de vista. Uma coisa mais introspectiva, a la Woody. Ou até mesmo, personalizando, o envelhecimento em Nova Iorque ou na cena nova iorquina e todas as questões que ele levanta. Mas não vou ser eu a fazer uma encomenda.

Ainda uma voltinha sobre as mulheres bonitas para acrescentar que a Greta Gerwig é outra que é desperdiçada neste filme mas honrosa excepção seja feita a Alessandra Mastronardi que foi, para mim, das poucas personagens efectivamente construídas. Aquela Milly, apesar da improbabilidade de tudo o que lhe acontece, tem efectivamente graça quando vai revelando a malícia por baixo do ar de menina bem comportada. E Antonio Albanese podia dar-lhe melhor contracena, não tivera apenas esboçado a existência da sua personagem.

Alessandro Tiberi (Antonio, o marido de Milly, que se vê nos braços de Anna) pareceu-me que pode ser um actor interessante e para abrilhantar os olhos ao público feminino, nesse caso, Flavio Parenti, o menino bonito de Io Sono L'amore, esse, sim, um grande filme.


4 comentários:

  1. Assino e subscrevo e bolas, escreves mesmo bem. E eu ao Flavio Parenti dava-lhe uma boa trinca, ai dava dava.
    Já agora, se ainda não viste, vê o Bienvenido al Sud (rumo ao sul). CHOREI a rir, e já vi o filme duas vezes. EXCELENTE caricatura dos Italianos a eles mesmos. É lindo.

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    1. Obrigada Andorinha! Pela simpatia e pela dica! :)
      Vi o trailer mas não vi o filme. Tenho que tratar disso.
      Beijinho!

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    2. Trata trata, eu já estou a tratar do Io Sono L'Amore que nunca vi ;) beijinhos

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    3. Ai, vê, vê!!
      Lindo esse filme!
      Na altura vi-o sem legendas e tudo (ou "nem nada")!
      Mais beijinhos :)

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