04/04/12

Maioridade





Correndo o risco de estar a dizer grandes disparates e, ainda por cima, conhecendo uma série de gente envolvida neste e noutros filmes do Miguel Gomes, parece-me que o seu cinema se emancipou de uma forma inequívoca porque, para além das evidências (Tabu não deixa grandes margens para dúvidas) e contra aquilo que me tem sido dado a observar nos últimos anos (menos no cinema de M.G. do que no de outros, ainda considerados "novos autores"), independentemente de, ou apesar de, ser feito com amigos, não é feito para os amigos.

E há um risco muito maior em sair dessa zona de conforto onde enchemos as nossas obras, objectos artísticos, de referências que só os nossos amigos podem compreender na totalidade (porque assim como assim esses apoiar-nos-ão sempre, mesmo que os outros não nos ovacionem), reverências e vassalagem aos nossos heróis, e colocar uma obra à mercê de outros críticos conhecedores de códigos mais abrangentes que possam desvendar linguagens e, enfim, a comunicação no sentido mais lato.





Perguntavam-me há pouco se, para mim enquanto espectadora, faria sentido dividir o filme em duas partes distintas ou considerar o filme como um todo. O filme tem de facto duas partes, intimamente ligadas pela narração feita, no presente, dos acontecimentos do passado, por um dos intervenientes na acção, não perdendo no entanto a coerência e unidade.
A segunda parte será talvez a mais fácil (no sentido da empatia com o público). Eles são jovens e bonitos e há toda a envolvente exótica da paisagem e da paixão.
Mas a primeira parte é talvez a mais arriscada, a mais inédita e a mais dura. E a que dita o lado trágico e nostálgico, sem mais desfechos possíveis, para toda a situação deixada em aberto, retrospectivamente, pela segunda parte.





Não se trata de um filme com nostalgia dos tempos do colonialismo mas, antes, de um filme sobre a nostalgia daquilo que a vida não permite que aconteça (a meu ver, e nunca mais que isso). Um potencial amoroso que ficou por explorar, um caminho que não se seguiu, uma opção que não se tomou ou circunstâncias que ditaram destinos.





É, claro, também interessante observar o olhar de um autor na casa dos 40 sobre uma geração com mais algumas décadas de vida. Um olhar sobre outros pontos de vista, ainda que a temática, lá está, seja transversal a qualquer idade.

Gostei particularmente da Teresa Madruga, da Laura Soveral e do Henrique Espírito Santo.

E é de chamar a atenção para a fotografia e escolha musical.

O Miguel Gomes, esse, esteve lindamente e está de parabéns.
Ovação.


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