Gosto tanto disto que, perdoe-me o Bruno Vieira Amaral, vai na íntegra!...
Com os devidos links e tudo, e tudo e tudo:
"Para se iniciar uma guerra, certas rajadas de elogios são pretexto mais feliz do que muitas ameaças e agressões. Basta ver o caso dos celebradores profissionais da beleza feminina e de outros elogiadores contumazes do que eles chamam o belo sexo. Para estes apreciadores da Mulher, a mulher, qualquer mulher, é sempre um mistério ou um enigma ou, quando o delírio irrompe, um enigma envolto em mistério. Nunca conseguem decifrá-lo, embora talvez tivessem mais sucesso se não começassem as suas profundas tentativas de compreensão pelos genitais. São os eternos apaixonados pela Mulher como outros são apaixonados por cozinha italiana, independentemente do prato, do cozinheiro e da conta que têm que pagar no fim. Quando falam de mulheres, lá vêm o embevecimento lúbrico e a condescendência babada embrulhados no fascínio que as mulheres lhes despertam, a veneração irreprimível, como se a mulher, qualquer mulher, não fosse uma mulher, um ser humano, mas um vislumbre do eterno num quadro de Botticelli. Claro que só homens com licenciaturas em Humanidades podem formular as coisas nestes termos de sofisticação intelectual. Com um bocadinho menos de sorte sociológica estariam pendurados nos andaimes a grunhir piropos. Como nasceram em berços mais abençoados, sussurram encómios, num perpétuo estado de espanto e disponibilidade para apreciar a beleza ou, como se diz no vernáculo da construção civil, “sempre de pau feito” e “pronto a aviá-la”. Estes grunhos bem-falantes transformam cada exemplo individual de beleza numa declinação de um ideal da Beleza, cada mulher na Mulher: é decoração de interiores feita Decoração de Interiores, em que a Mulher é, no fundo, um ornamento (desculpem, um Ornamento). O adorador compulsivo da Mulher não é muito melhor que o exibicionista dos parques. Enquanto este exibe infantilmente a pilinha, aquele exibe despudoradamente o seu gosto refinado. Não sei se valerá a pena declarar-lhes guerra. Afinal, não me parece muito sensato andar aos tiros a pavões."
no Circo da Lama.
Com os devidos links e tudo, e tudo e tudo:
"Para se iniciar uma guerra, certas rajadas de elogios são pretexto mais feliz do que muitas ameaças e agressões. Basta ver o caso dos celebradores profissionais da beleza feminina e de outros elogiadores contumazes do que eles chamam o belo sexo. Para estes apreciadores da Mulher, a mulher, qualquer mulher, é sempre um mistério ou um enigma ou, quando o delírio irrompe, um enigma envolto em mistério. Nunca conseguem decifrá-lo, embora talvez tivessem mais sucesso se não começassem as suas profundas tentativas de compreensão pelos genitais. São os eternos apaixonados pela Mulher como outros são apaixonados por cozinha italiana, independentemente do prato, do cozinheiro e da conta que têm que pagar no fim. Quando falam de mulheres, lá vêm o embevecimento lúbrico e a condescendência babada embrulhados no fascínio que as mulheres lhes despertam, a veneração irreprimível, como se a mulher, qualquer mulher, não fosse uma mulher, um ser humano, mas um vislumbre do eterno num quadro de Botticelli. Claro que só homens com licenciaturas em Humanidades podem formular as coisas nestes termos de sofisticação intelectual. Com um bocadinho menos de sorte sociológica estariam pendurados nos andaimes a grunhir piropos. Como nasceram em berços mais abençoados, sussurram encómios, num perpétuo estado de espanto e disponibilidade para apreciar a beleza ou, como se diz no vernáculo da construção civil, “sempre de pau feito” e “pronto a aviá-la”. Estes grunhos bem-falantes transformam cada exemplo individual de beleza numa declinação de um ideal da Beleza, cada mulher na Mulher: é decoração de interiores feita Decoração de Interiores, em que a Mulher é, no fundo, um ornamento (desculpem, um Ornamento). O adorador compulsivo da Mulher não é muito melhor que o exibicionista dos parques. Enquanto este exibe infantilmente a pilinha, aquele exibe despudoradamente o seu gosto refinado. Não sei se valerá a pena declarar-lhes guerra. Afinal, não me parece muito sensato andar aos tiros a pavões."
no Circo da Lama.
É um texto extraordinário. Dá vontade de emoldurar e pendurar na parede.
ResponderEliminar:) gosto muito, só me apetece dizer-lhe "obrigada!" :)
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