10/09/11

Cassavetes, vai cortar os pulsos!

Ou como diz o meu tio, "Vai-te encher de moscas!"...

Peço desculpa, peço desculpa, peço desculpa! É que nunca mais repito! Andei a sugerir que se fossem todos enfiar na Cinemateca a curtir a fossa, a depressão, sem saber...

"A Woman Under the Influence" são duas horas e trinta e cinco minutos de uma coisa que nem sei se sei bem explicar-vos sem ter mais trabalho do que desejaria ou sem ter que abordar assuntos que não me apetece, assim do pé para a mão...

Muito gostava aquela geração de curtir a fossa... "nossa"!

Eu não sei de nada, não estudei cinema, não quero saber... do ponto de vista da mera espectadora, sedenta de algumas emoções, de um retrato fiel das MAFU (Mothers All Fucked Up) ao invés das MILF, digo-vos, "Cassevetianos", ide-vos foder!...

Quero dizer, está bem, para quem não experimente a vida para lá da tela! É como a "Literatura"... os clássicos... é tudo muito bonito, tudo muito intenso, se não tivermos nada mais com que nos preocupar...

(eu sei que não me faço entender.... que gaita, eu sei... mas ainda assim....)

A certa altura, a meio da desgraça apocalíptica, de que ria aquela gente?... Quando o homem (Peter Falk) embebedava os filhos, sem saber o que fazer com eles, depois de lhes ter internado a mãe... o público ria... as criancinhas, tão giras, estonteadas a beber cerveja com o pai... era a descompressão, só pode! O desconforto! Aquela gente não sabia como lidar em silêncio, passivamente, àquilo! Ou então sou eu que ando com uma imensa falta de humor! Bem... a desgraça, a tragédia, uma mãe para lá de Bagdad, flipadíssima, um pai ausente e incompetente, todos disfuncionais... as crianças pelo meio, preocupadas, aflitas, pequeninas...

O desvio, o perigo de julgar os outros pela mediania. A tirania da "normalidade", a métrica cega aos afectos. Está tudo lá.

Sim, está tudo lá e dali podemos tirar muita coisa.

Mas também está lá o abuso obsceno dos actores, o esgravatar, escarafunchar nas feridas para deleite não sei de quem. De quem não tem.

É tudo um excesso tão, mas tão próprio daquela geração, daqueles anos... conheço um bocadinho. Eu nasci em 1974, fui criança dessa época. Os mesmos olhos.

Mas é com os olhos de mãe que o filme dói, com os olhos de mulher que faz das tripas coração.

Acho que tudo deve ser discutível, tudo deve ser denunciado. O abuso, o abuso, o abuso...

Mas aquilo é como ir ao circo ver as aberrações, assistir a execuções ou vibrar com a desgraça alheia! Dava um bom mote para um reality show.

Ocorre-me, de repente, a cena do cão amarrado naquela exposição, para que o vissem morrer à fome.

"Mas é cinema", poderão dizer, "é ficção"!

É, é. E a vossa vida também! É só cinema!

1 comentário:

  1. sentis-te, não sei se concordo mas também não importa, importa que tenhas saido de lá com revolta. isso é bom :) eu chorei na porra do filme que nem uma maria madalena. é o meu mais-que-tudo dos Cassavetes, com aquela que é uma das maiores deusas, Gena Rowlands. e quando o vi, foi numa semana de EMO, tomei uma injecção de filmes do Cassavetes que precisei logo a seguir de me desintoxicar com as primeiras pipocadas que me aparecessem.

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